Por: Cristina S. Souza – Psicóloga Clínica
Fiz uma viagem em junho, 10 dias
na cidade natal dos meus pais, cidade onde morei dos 10 aos 21 anos, passei
toda a adolescência lá e retornar agora, 26 anos depois foi uma experiência, no
mínimo, intensa.
Muitas reflexões sobre estes dias
e aqui vai a primeira delas:
Venho me questionando: porque tenho asas?
Quem me conhece sabe que amo borboletas, claro que esse amor tem um simbolismo, sempre fui muito independente, dona do meu nariz, e este “dona do meu nariz” claro que vinha com uma certa arrogância, na adolescência ter a responsabilidade da independência eleva o ego e contribui para o autoritarismo. E eu era assim, autoritária, dominadora e livre. Ai de quem ousasse prender minhas asas. Seja na vida profissional, social e principalmente relacional.
Claro, reconheço que sou tudo que sou hoje
porque tive essas asas, grandes, que não cabiam em lugar nenhum e assim fiz
minha peregrinação desde cedo pela vida, pelo mundo.
Mas hoje, olho para traz e
percebo que tudo sempre foi muito pesado e difícil, até minha filha fala: “nada
é fácil pra você mãe”, não a vida não foi muito fácil. Claro que quem tem asas
também tem forças, pois alçar voo não é uma coisa muito simples. Às vezes gostaria de ter um local para pousar,
tranquilo, calmo e seguro. Mas enquanto
esse lugar não vem e nem sei se vem, continuo voando, levando meus
conhecimentos, ajudando pessoas.
Propósito
Esta viagem teve muitos
propósitos, mas um deles foi pensar em relacionamentos. Várias gerações de
mulheres foram criadas para ter asas. Acompanho diversas histórias em que
essas asas (liberdade+autoritarismo=dominar) atrapalha o relacionamento.
Diversos casais têm conflitos
porque a esposa quer do jeito dela, não confia, briga por tudo, toma a frente e
sai atropelando e no fundo sente um grande amor pelo seu parceiro, parte desta
guerra é por orgulho, claro aprendeu que mulher tem que ter asas, não pode
ficar por baixo, não pode depender, etc.
Existe um ditado que diz: “prefiro
ser feliz do que ter razão”. Porque cargas d’agua não ouvi esta frase antes dos
23 anos? Ah! Se tivesse ouvido sabe o que teria acontecido? Teria brigado com
quem a tivesse falado para mim, porque estava na guerra, porque queria ter
razão.
O que deixo aqui de recado, pelas
minhas próprias experiências e pelas aprendizagens que tive neste retorno ao
passado é:
Deixe que suas asas sejam leves,
não brigue para ter razão, com aquela pessoa que você mais ama, desarme-se, confie. Se
apesar de tantas brigas vocês ainda estão juntos é porque ele te ama, é porque
você é importante para ele, é porque ele é sim mais forte que você e se você permitir
ele pode ser o seu pouso seguro”. As brigas destroem o amor e o resultado é a
perda e o arrependimento.
Acredite, não vale a pena brigar
para ter razão, se tivesse aparecido uma Cris para me falar isso bem lá no
passado e eu tivesse conseguido ouvir, tudo teria sido muito diferente.
Enquanto você que está neste
processo pode trazer leveza para seu relacionamento eu continuo meu voo até
achar um local seguro para pousar, porque agora meus voos são leves, não quero
mais guerra, quero paz, mas levei muitos anos para aprender isso.