Que dor é essa? Perder os genitores nunca é fácil.
Quando perdi meu pai sofri tanto que entrei em um processo,
que hoje sei, era depressão. Meu desejo? Morrer junto com ele. Entendi aquela
dor pois ainda era uma menina, 21 anos, solteira, morava com eles, sendo assim
nada mais natural que sofrer desesperadamente.
Mas ao ser independente, ter uma família constituída, ter
uma profissão e uma carreira ascendente, vivi-se a morte de uma forma mais natural,
certo? ERRADO. Era assim que eu imaginava, quando minha mãezinha partisse. Mas
não está sendo.
25 anos depois que meu pai se foi, hoje a dor por perde-la é
muito grande, uma dor que dilacera a alma, que faz doer todos os nervos do
corpo, que tira energia de viver, que faz a vida ficar triste. Uma dor que nem
mesmo tenho vontade de superar, a mesma vontade da menina, ir embora junto.
Sei que vai passar, sei que o tempo cura tudo e ficarão as
doces lembranças e a saudade. Mas minha reflexão é sobre esta dor que
racionalmente não deveria ser assim.
Minha mãe com 80 anos, já cansada, com saúde debilitada com
dores na coluna e no joelho, sem contar pressão alta e diabetes; tudo sobre
controle mas mostrava-se cansada. Mulher de muita fé, pedia a Deus que a levasse
antes que ficasse em uma cama dependente de cuidados e pedia que Deus em sua
infinita misericórdia a levasse sem sofrimento, e assim foi. Então se tudo foi
como ela queria, porque esta dor?
Ela dependia de nossa ajuda para alguns movimentos como compras,
médicos, etc. e nós, filhos em nada dependia dela, então se somos adultos,
independentes, com famílias, porque essa
dor?
Sempre falei o quanto a amava e principalmente o quanto a
admirava, agradecia por tudo que ela me ensinou e dizia-lhe que sou o que sou
porque ela é a minha musa inspiradora, não deixei de falar e nem de fazer nada,
então não é culpa. Porque esta dor?
Ficar órfã(o) é um
processo muito dolorido
Conversando com amigos, terapia e irmão cheguei a esta
conclusão. No momento em que soube de sua partida abriu-se um enorme vazio na
minha alma, também me tiraram o chão e assim estou já há alguns dias. Já não
tinha mais o meu pai e agora não tenho minha mãe. A sensação é que não tenho mais ninguém.
Racionalmente não faz sentido eu sei, tenho irmãos, marido,
filhas e até neto; tenho tias, primos e amigos maravilhosos, mas emocionalmente
é assim que parece, estou sozinha no mundo.
Sou muito questionadora e reflexiva, em meus pensamentos
justifico que: os irmãos seguem suas vidas, com suas famílias e é assim que
deve ser mesmo; os filhos nasceram para o mundo e a vida continua: escola,
cursos, passeios, amigos... e é assim que tem que ser. Marido/esposa, por mais
que sinta, não tem a noção do que é ficar órfão, a menos que tenha passado por
isso. Enfim... é verdade, não tenho mais ninguém, o meu pai se foi e a minha
mãe se foi. Esta é a grande dor. Quem vai conversar comigo? Dar broncas? Rir?
Fazercompras? Fazer “fofocas”? Comentar sobre as novelas e fazer tricôt?
Ninguém. Estou sozinha sem mãe e sem pai.
Sendo assim preciso mesmo de um tempo para me reequilibrar e
reencontrar um chão seguro, aquele que vou reconstruir com meus próprios
tijolos. Os carinhos e atenções que recebo são muito bem vindos e ajudam, mas
quem precisa estruturar este novo chão sou eu mesma.
É assim que é ficar órfã. Mesmo sendo adulta.
Como seria se?
Como seria se eu sentisse culpa pelo que não falei ou pelo
que não fiz?
Como seria se guardasse mágoas e raivas?
Como seria se não tivesse ficado tanto tempo junto, perto.
Como seria se não a olhasse vendo o seu melhor?
De certo seria muito pior.
Então você que ainda tem sua mamãe e/ou seu papai, reveja
esta relação. O amor que sente é maior que as mágoas? Você os trata com a paciência que eles merecem? Fala de seu
amor por eles? É presente em suas vidas?
Se algumas das respostas for não, reveja antes que seja
tarde. Alguns filhos têm dificuldades em falar que ama, abraçar, elogiar, etc.
se não consegue, experimente escrever, faça uma carta de amor e entregue a
eles. Quanto ao restante, se não consegue perdoar sozinho, ter paciência,
procure ajuda. ANTES QUE SEJA TARDE.
*Abro aqui um parênteses e deixo minha profunda gratidão à
Bert hellinger, autor das constelações familiares, pois tudo estava em ordem
quando ela se foi, mesmo ninguém dos irmãos sabendo do que estou falando,
conseguimos por em ordem e assim a vida fluiu como tinha que ser.
E agora sigo com minha alma dilacerada, vou juntando os
caquinhos e construindo um novo chão, que seja firme para eu pisar.
Por Cristina S Souza – filha
Um comentário:
Tudo muito lindo sinto o mesmo,quanto ao trico fazemos juntas tia e sobrinha a dor a cada quinta feira vai aumentando .
Postar um comentário