terça-feira, 5 de junho de 2012

Expectativa : aliada ou vilã?


Ouço muitas pessoas dizendo que precisam deixar de ter expectativas na vida, mas eu substituiria essa frase para: preciso reconhecer quais são as minhas expectativas na vida.
Você consegue imaginar uma vida sem expectativas? Seria no mínimo uma vida sem graça, sem esperanças, pois são as expectativas que trazem aquele frio na barriga, aquela ansiedade gostosa, aquele sorriso no canto dos lábios quando se pensa no que está sendo desejado, uma alegria quente que faz pulsar o coração.
Não é possível viver sem expectativas, Freud já dizia que somos seres desejosos, estamos sempre desejando algo, e onde há desejo, há expectativas!
O que acontece é que as pessoas vão se enchendo de expectativas,e entre estas existem as com maior probabilidade de realização e as com menor e, às vezes, nenhuma chance de se concretizar e então se enchem de frustrações até culpando o outro pela não realização do seu desejo.

Pensemos em algumas situações simples nas quais se esperam muitas coisas:
  1.        Uma mulher decide preparar um jantar especial para o seu marido, e sem avisá-lo vai cuidando de todos os detalhes para que seja uma noite perfeita, no entanto ele está tendo um dia difícil e não vê a hora de chegar em casa para tomar um banho, comer qualquer coisa e cair na cama. Quais são as expectativas dessa mulher?  E quais são as expectativas desse homem? Quais as chances de ambos irem dormir frustrados? Muitas!
  2.        Uma viagem com a mesma turma, ou com a mesma pessoa, para o mesmo lugar, logo será tão boa quanto a anterior, certo? Certo, se a expectativa não for de que tudo aconteça exatamente igual, pois nunca será. Essa é uma nova viagem!
  3.        Duas pessoas se encontram, depois de um longo período de ausência, e um espera apenas poder rever, matar a saudade, ficar juntinho, mas o outro espera mais, tem a expectativa de encontrá-lo como antes, que a mesma música toque e provoque o mesmo efeito apaixonante, que as mesmas palavras sejam ditas e que o sentimento ainda esteja ali guardado, pronto para ser aflorado. Mas como poderia ser igual, se a vida não é estática, a vida é dinâmica, tudo muda o tempo todo e ambos mudaram. Pronto, expectativas frustradas e, o que poderia ter sido bom, não foi!
  4.       Uma amiga é presente, compreende tudo que acontece com a outra, liga no dia do aniversário, divide todos os momentos, a escuta com delicada atenção, a incentiva, dá gargalhadas e chora junto; a pessoa passa a esperar que todas as amigas sejam assim também, e deixa de enxergar as características diferentes, porém positivas da outra amizade e passa a achar que esta não é tão confiável ou não é tão boa assim. Expectativas equivocadas, pois nenhuma relação poderá ser igual à outra e de cada amizade compartilha-se momentos e sentimentos diferentes.

Ah como temos expectativas! E na maioria das vezes,esperamos que o outro adivinhe o que pensamos, o que desejamos; depositamos nele, todos os nossos anseios mesmo que ele não faça ideia quais sejam. Vamos misturando tudo e quando nos damos conta, estamos esperando atitudes certas das pessoas erradas...confunde-se marido com pai, mulher com mãe, espera-se que o parceiro, os amigos, os colegas de trabalho supram tudo que ficou faltando até o devido momento, tudo que não veio de onde realmente teria que ter vindo ou espera-se ainda que a nova relação repita tudo que foi bom nas relações anteriores e dessa forma, nenhuma relação trará a satisfação esperada.
Lembre-se: o outro não sabe o que você pensa, o que você espera dele,o que você deseja que ele faça, o que lhe ficou faltando, como foi o seu dia ou a sua vida. Além disso, lembre-se de assumir a sua parte de responsabilidade em qualquer situação.
Tenhamos expectativas sim! Mas saibamos quais são as nossas expectativas, para que possamos reduzi-las assim que percebamos que elas estão grandes demais, ou para que sejam substituídas sempre que estiverem inadequadas. Para que não nos sintamos vítimas e infelizes e para que o outro não tenha que ficar sempre no lugar de vilão, sem ao menos o direito da defesa!
Márcia Cortez
Psicóloga




Um comentário:

Anônimo disse...

É como diz o ditado popular em relação as expectativas: "a gente nunca pode contar com o ovo que ainda está dentro da galinha." Ilma