Crise da meia idade feminina
Há um ano me peguei a pensar nas coisas que não fiz.
Realizamos em nossas vidas muitas conquistas, desejos, sonhos, atingimos metas.
Sonhos comuns a uma adolescente ou jovem: casar, ter filhos, ter uma casa, ter
um carro, ser uma profissional de sucesso, ser uma boa mãe, ser uma excelente
esposa, ser inteligente... e assim vamos construindo nossos sonhos e castelos
no ser e no ter.
E chega um dia que nos pegamos a pensar com saudades e com
certa melancolia no que não realizamos, até porque para realizar uns sonhos
precisamos abrir mão de outros, por exemplo, quando adolescente tinha como um
dos meus milhares de sonhos, trabalhar viajando, portanto não seria compatível,
dentro dos meus valores na época, com casar e ter filhos.
Me coloquei a
pensar com saudosismo naquela época em que tinha mesmo muitos sonhos e agora me
deparo com só alguns realizados e não todos. Surge uma sensação de perda,
tristeza e até fracasso. E ao ler a frase “Meia idade é quando você alcança o
fim da escada e descobre que ela estava na parede errada”. (Sue Shellenbarger
no livro A crise da meia idade feminina) tive mesmo esta sensação, caminhei tanto e parece que não caminhei nada.
Não que seja a parede errada, ou que nada fizemos, ao contrário, veremos mais abaixo que a crise é exatamente porque muito fizemos, pois não podemos deixar de
reconhecer tudo que construímos até agora, mas por alguns instantes é esta a
sensação que dá, quando lembramos do que não realizamos.
Outro momento crucial é ver o outro envelhecendo, observar
que as amigas estão com cabelos brancos, rugas, perceber que os pais estão
velhinhos e que as crianças cresceram e são homens e mulheres formados; gera
uma sensação no mínimo desconfortante, mas quando começamos a ver que as amigas
estão virando avós, ai sim, é o mesmo que olhar no espelho e perceber “estou
envelhecendo”.
Um outro sintoma que venho percebendo é a falta de sono, se antes acordava as 10-11 da manhã sempre que podia, hoje as 6hs estou com os olhos abertos e despertos, se antes dormia aos domingos a tarde, hoje estou aqui, escrevendo para vocês, como se não pudesse perder tempo dormindo, e lembro de outras mulheres falando que não conseguem dormir a tarde e acordam cedo, antes não entendia, hoje entendo perfeitamente.
Algumas pessoas associam com a menopausa, mas não estão ligadas. São momentos e situações diferentes.
Segundo Shellenbarger a meia idade tem inicio no final da
década dos trinta anos, mais precisamente por volta dos 40, podendo ser um
pouco antes ou depois, relata que frustração, desespero, ressurgimento de
paixões e desejos inquietantes, auto-descobertas e renovação são comuns nas
histórias de mulheres na meia idade.
Diante de tantas sensações e emoções é comum que nesta fase
a mulher tenha algumas explosões e conseqüentemente algumas mudanças de
comportamentos. Umas mudanças podem ser
sutis e outras bastante devastadoras.
A autora relata em seu livro, história de mulheres que
largaram suas vidas, marido, filhos e saíram a se aventurar pelo mundo, algumas
canalizam esta força para os esportes radicais, outras para a arte, outras para
paixões; é uma revolta que explode e Shellenbarger define da seguinte forma:
“Para mim, esta força vem de uma fonte ainda maior; da surpreendente descoberta
de que, na meia idade, muito ainda não foi vivido, de que a vitalidade da
alegria, da sexualidade e da auto-descoberta ainda está presente, mais forte e
motivadora do que nunca”.
O fato de passar a juventude dedicando-se ao trabalho, a
educação dos filhos e vida familiar, a autora compara com luzes de uma
discoteca, a energia dessas mulheres é direcionada a vários lugares e elas
perdem o foco.
E ao chegar no final da escada entra em crise e explode.
É comum vermos e acompanharmos histórias de mulheres que
deixam sua casa e família e vão morar com um novo namorado, ou mulher que pede
demissão de um emprego seguro e promissor e vai ser autônoma, monta um negócio
ou vai trabalhar com artes, outras começam a escalar montanhas, pular de bung
jump, paraquedas, entre outros esportes, ao que a autora chama de desejos
explosivos.
O problema é que essas explosões e mudanças drásticas podem
ou não atingir a família, depende do quanto a mulher está preparada para viver
esta fase. Também ocorrem mudanças de humor, sentimentos e sensações.
Essas crises não têm um tempo definido, pode durar anos.
Mais uma para nós mulheres, como se não bastasse tudo que já
temos e vivemos. Mas a crise da meia idade contribui para obtenção de nova
consciência de nossos limites e desenvolvemos novas percepções do sentido e da
direção para nos guiarmos pelo resto de nossa vida, afirma Shellenbarger.
Às minhas amigas e leitoras do nosso blog que está nesta
fase, bem vindas. Não é um momento fácil mas pode ser um momento delicioso.
Perceber que mesmo aos 40 ou mais, podemos sim conquistar, vencer, ter SER....
Podemos tudo que quisermos porque somos portadoras de características únicas e de uma energia sem igual.
Assim somos nós: inteligentes, encantadoras, belas, seguras,
experientes, determinadas, conscientes, e muito mais ....
Acredite.
Por Cristina S. Souza
Psicóloga – passando pela crise da meia idade
Livro que recomendo:
Sue Shellenbarger ; “A crise da meia idade feminina e como
ela está transformando as mulheres de hoje”;
Editora Verus;
2010; São Paulo
2 comentários:
O que dizer ? Não é muito diferente o universo masculino e vivo exatamente o que foi narrado , transcender esse período nos eleva a um outro nível, e esse é o desafio , para que os movimentos todos que a meia idade nos
propõe , não torne histórias magnificas de realizações e conquista em EXPLOSÕES CATASTRÓFICAS !
Fantástico texto Cris , sincero e verdadeiro .
Obrigado Alex, sabemos bem o que é isso tudo.
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