segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Medo de Amar



Desde que a minha cachorra chegou em minha vida, venho me deparando com uma questão interessante,  toda vez que saio para passear com ela, encontro pessoas que me  contam e recontam sobre a morte de algum bichinho de estimação, ao mesmo tempo que demonstram preocupação que eu me apegue a  ela e depois sofra quando ela partir.
Ouço coisas do tipo : “ ah ela é tão linda, o duro é que a gente pega tanto amor e depois eles morrem, por isso que não tenho uma” ou “Ah eu tive uma, mas eu sofri muito quando ela se foi e agora eu nem quero mais”.
E mesmo eu dizendo que a minha cachorra só tem cinco meses e que não preciso pensar sobre isso agora, ou dizendo “que a vida é assim mesmo, as pessoas entram na nossa vida ficam o tempo necessário e depois vão embora”; ainda assim há uma obstinação nesse medo irracional de que dar amor, se apegar , amar, pode gerar sofrimento.
A partir daí tenho pensado no tema, e na quantidade de pessoas que preferem não fazer amigos para não correrem o risco de se magoarem , de pessoas que não se apaixonam ou não vivem um amor com  medo de serem abandonados no meio do caminho ou de pessoas que não tem um animal de estimação porque eles "vão embora".
Já tive clientes que diziam que o que mais desejavam era ter um (a) namorado (a), mas quando essa pessoa aparecia, davam um jeito de colocar defeitos e se boicotavam terminando a relação, abandonando antes que fossem abandonados.
Existem ainda aqueles que se doavam demais, faziam além do que era saudável, se anulando, deixando de existir, para tentar garantir a eternidade da relação.
Mas será que há garantias de alguma coisa nessa vida? Temos como garantir que o outro vai ficar na nossa vida para sempre? Ou que nós vamos ficar na vida do outro para sempre? Há como garantir que eu nunca vou decepcionar um amigo ou um amor e vice-versa?
Esse parece ser um desejo infantil, parece que ao nos relacionarmos regredimos ao útero materno quando éramos unos, sem separação, “eu e a mamãe” éramos um só em nosso amor, mas logo nos deparamos com a separação mais doída que é o nascimento, que nos conduz a um mundo totalmente novo, no qual “eu e mamãe” seremos dois, e os desafios, mas também as possibilidades serão muitas.
O único caminho para o crescimento é o risco, assim como o risco dos primeiros passos do bebê, que ao andar olha rapidamente para trás para garantir que a mamãe continua lá esperando ele voltar. Ele pode recuar e ficar no colo da mamãe ou prosseguir para a vida e para tudo que o espera.
 Assim também são as nossas possibilidades de amar, não importa quanto tempo vai durar uma relação, como já dizia o poeta “que seja eterno enquanto dure”, mas que seja bom, que amplie os nossos horizontes , que nos forneça novas possibilidades de existir , de sentir, de estar ...
Vislumbro de imediato dois caminhos diante desse impasse: de nos defendermos do que estamos sentindo e do que podemos sentir, nos afastando do nosso objeto de amor, ficando “seguros” no conhecido, no que já somos; ou nos abrirmos para o amor, para a construção de novos vínculos, sem garantias de nada, apenas vivendo um dia de cada vez, um momento após o outro, descobrindo do que esse novo sentimento é capaz, experimentando novos jeitos de ser e de estar no mundo por meio dessa nova relação, por quanto tempo a vida nos permitir e desejarmos.
O medo de sofrer leva a um medo de amar, de se entregar ao desconhecido, ao medo de estar com o outro. O fato de já ter sofrido, também faz com que nos defendamos e assim perdemos a riqueza e a alegria dos dias vividos e possíveis.
O risco faz parte do caminho, pois tudo é arriscado nesta vida! Viver é um risco, abrir os olhos todos os dias de manhã é perigoso e ainda assim só há essa maneira de viver e de crescer.
Estou amando a minha cachorrinha que está com apenas cinco meses e vou viver esse amor por quanto tempo a vida me permitir e quando "ela" ou "eu" partir, terei a certeza de que “amei e fui amada” e serei um outro ser,  isso será o mais importante, mesmo que haja sofrimento e dor.
Que possamos refletir sobre a nossa postura diante do amor, das relações, das nossas construções. Vale a pena não se apegar a alguém para não ser magoado, ferido e abandonado?
No final, talvez, você terá garantido a ausência do sofrimento, mas também não terá momentos felizes, plenos e maravilhosos para se lembrar e, principalmente, não terá ampliado a sua possibilidade de existir  e de sentir, além do que você já sabe ser capaz. Pense nisso!

Márcia Cortez
Psicóloga clinica
3976-3838



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