Desde que a minha cachorra chegou
em minha vida, venho me deparando com uma questão interessante, toda vez que saio para passear com ela,
encontro pessoas que me contam e recontam
sobre a morte de algum bichinho de estimação, ao mesmo tempo que demonstram
preocupação que eu me apegue a ela e depois
sofra quando ela partir.
Ouço coisas do tipo : “ ah ela é
tão linda, o duro é que a gente pega tanto amor e depois eles morrem, por isso
que não tenho uma” ou “Ah eu tive uma, mas eu sofri muito quando ela
se foi e agora eu nem quero mais”.
E mesmo eu dizendo que a minha
cachorra só tem cinco meses e que não preciso pensar sobre isso agora, ou dizendo “que a vida é assim mesmo, as pessoas entram na nossa vida ficam o tempo
necessário e depois vão embora”; ainda assim há uma obstinação nesse medo
irracional de que dar amor, se apegar , amar, pode gerar sofrimento.
A partir daí tenho pensado no
tema, e na quantidade de pessoas que preferem não fazer amigos para não
correrem o risco de se magoarem , de pessoas que não se apaixonam ou não vivem um amor com medo de serem
abandonados no meio do caminho ou de pessoas que não tem um animal de estimação porque eles "vão embora".
Já tive clientes que diziam que o
que mais desejavam era ter um (a) namorado (a), mas quando essa pessoa aparecia,
davam um jeito de colocar defeitos e se boicotavam terminando a relação,
abandonando antes que fossem abandonados.
Existem ainda aqueles que se
doavam demais, faziam além do que era saudável, se anulando, deixando de
existir, para tentar garantir a eternidade da relação.
Mas será que há garantias de
alguma coisa nessa vida? Temos como garantir que o outro vai ficar na nossa
vida para sempre? Ou que nós vamos ficar na vida do outro para sempre? Há como
garantir que eu nunca vou decepcionar um amigo ou um amor e vice-versa?
Esse parece ser um desejo
infantil, parece que ao nos relacionarmos regredimos ao útero materno quando
éramos unos, sem separação, “eu e a mamãe” éramos um só em nosso amor, mas
logo nos deparamos com a separação mais doída que é o nascimento, que nos
conduz a um mundo totalmente novo, no qual “eu e mamãe” seremos dois, e os
desafios, mas também as possibilidades serão muitas.
O único caminho para o
crescimento é o risco, assim como o risco dos primeiros passos do bebê, que ao
andar olha rapidamente para trás para garantir que a mamãe continua lá
esperando ele voltar. Ele pode recuar e ficar no colo da mamãe ou prosseguir
para a vida e para tudo que o espera.
Assim também são as nossas possibilidades de
amar, não importa quanto tempo vai durar uma relação, como já dizia o poeta “que seja eterno enquanto dure”, mas que seja
bom, que amplie os nossos horizontes , que nos forneça novas possibilidades de
existir , de sentir, de estar ...
Vislumbro de imediato dois
caminhos diante desse impasse: de nos defendermos do que estamos sentindo e do
que podemos sentir, nos afastando do nosso objeto de amor, ficando “seguros” no
conhecido, no que já somos; ou nos abrirmos para o amor, para a construção de
novos vínculos, sem garantias de nada, apenas vivendo um dia de cada vez, um
momento após o outro, descobrindo do que esse novo sentimento é capaz,
experimentando novos jeitos de ser e de estar no mundo por meio dessa nova relação, por quanto tempo a vida
nos permitir e desejarmos.
O medo de sofrer leva a um medo
de amar, de se entregar ao desconhecido, ao medo de estar com o outro. O fato
de já ter sofrido, também faz com que nos defendamos e assim perdemos a riqueza
e a alegria dos dias vividos e possíveis.
O risco faz parte do caminho, pois tudo é arriscado nesta vida! Viver é um risco, abrir
os olhos todos os dias de manhã é perigoso e ainda assim só há essa maneira de
viver e de crescer.
Estou amando a minha cachorrinha
que está com apenas cinco meses e vou viver esse amor por quanto tempo a vida
me permitir e quando "ela" ou "eu" partir, terei a certeza de que “amei e fui amada” e serei um outro ser, isso será o mais importante, mesmo que haja sofrimento e dor.
Que possamos refletir sobre a nossa
postura diante do amor, das relações, das nossas construções. Vale a pena não
se apegar a alguém para não ser magoado, ferido e abandonado?
No final, talvez, você terá
garantido a ausência do sofrimento, mas também não terá momentos felizes,
plenos e maravilhosos para se lembrar e, principalmente, não terá ampliado a sua possibilidade
de existir e de sentir, além do que você já sabe ser capaz. Pense nisso!
Márcia Cortez
Psicóloga clinica
3976-3838
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