quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A difícil arte de crescer


Hoje quero refletir sobre a relação mãe e filha na adolescência. Percebo cada dia mais como é difícil para ambas se "separarem", chamo de separação o desafio de crescer, de desprender-se para novas aventuras na vida.
Bassof diz que na maior parte dos casos, as relações afetivas implicam estreita convivência, mas as relações entre mãe e filha adolescente exigem que ambas se desprendam uma da outra.E que devido ao vínculo que as une, o afastamento não costuma ser ameno. 
Percebo que há um desejo sincero por parte de muitas mães, que suas filhas cresçam, saiam mais, tenham novas amizades, amores, mas quando isso realmente começa a acontecer se preocupam e por vezes, se desesperam, na ânsia de protegê-las dos riscos que tudo isso implica. 
Por parte das filhas o mesmo acontece, querem se aventurar, fazer tudo diferente, brigam, batem o pé, mas recuam para buscar abrigo ao menor sinal de insegurança. 
Crescer dói, cria conflitos diversos, exige força de personalidade para muitas vezes bater de frente com a pessoa que mais ama e mais passa segurança na vida. 
Gosto de pensar na imagem da criança quando está aprendendo a andar: ela dá um passo, solta da mão da mãe, dá mais um passo e volta correndo para os braços da pessoa que mais confia no mundo. Numa segunda tentativa arrisca-se um pouco mais, dando alguns passos, mas sempre olhando para trás para ver se o seu porto seguro continua lá. E é assim que acontece também na adolescência, a cada passo um olhar em busca da segurança materna e é assim que deve ser até que se tenha firmeza para ir mais longe. 
Bassof exemplifica isto em seu livro, contando sobre as brigas entre mãe e filha, as duas brigam num momento, mas no momento seguinte um simples resfriado é capaz de fazer com que essa filha busque o colo materno desejando ser mais que cuidada, mas protegida da vida. 
As brigas, por vezes,simbolizam apenas uma forma de se defenderem do anseio que sentem de ficarem grudadas o que impediria que uma identidade separada dos pais fosse criada.
Cabe à adolescente força para resistir a esse anseio de proteção e à mãe força para vencer e superar seus próprios medos e expectativas, permitindo que  essa filha descubra quem é, e para onde quer ir, dando continuidade ao desenvolvimento saudável da sua personalidade.
Lembrando às mães que dar permissão para que a filha cresça não significa deixar de apoiá-la e orientá-la ausentado-se da relação.O grande desafio é saber o momento de dar apoio e o momento de se afastar e deixá-la ir.
Caso isso não ocorra de forma saudável, além de inúmeros conflitos que possam ser criados nessa relação, há o risco de que seja ativado o complexo de cinderela que se constitui no medo da independência e no desejo de ser amada, como se as duas coisas não pudessem coexistir. Refiro-me a dependência emocional que pode, inclusive, ser transferida para futuras relações, provocando um medo intenso de ficar sozinha e a necessidade de ter sempre alguém que cuide e proteja. 
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Portanto arrisquem-se dando um passo por vez, claro que todas nós ansiamos em algum momento por um colo, por um afago, e não há nenhum mal nisso, mas não se pode permanecer nesse colo e desistir da própria força e determinação para enfrentar a vida e criar sua própria história.
Márcia Cortez 

Indicação de um livro maravilhoso para aprofundar a reflexão sobre este tema: Mães  e filhas - A arte de crescer e aprender a ser mulher- Evelyn Bassoff

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