Hoje quero refletir um pouco sobre o papel da doença em nossas vidas. A doença como mensageira.
A maioria das pessoas chegam no
consultório quando já estão muito fragilizadas, e muitas delas querem apenas a
cura rápida. Esquecem-se que para chegarmos ao destino final, é necessário percorrer
o caminho.
Jung em seu livro O homem e seus símbolos,
diz que nos afastamos muito da linguagem do inconsciente, fomos ficando cada
vez mais racionais e lógicos, apresentando então muita dificuldade para
compreender a linguagem dos símbolos.
A doença nada mais é do que um
símbolo. Ela chega para dizer que algo não vai bem em nossas vidas. Que estamos
deixando alguma coisa importante de lado.
Com toda a correria do dia a dia,
em busca de cumprir todas as obrigações e dar conta de tudo, vamos perdendo a
conexão com a nossa alma, com o nosso self, não ouvimos mais a nossa voz
interior.
Quando de repente alguém nos
pergunta do que gostamos, o que queremos, ou do que sentimos falta; olhamos
espantados, pois nos damos conta de que já não sabemos. A vida é dinâmica e se
tudo muda fora de nós, também muda dentro de nós. A questão
é, que achamos que somos os mesmos de ontem, com os mesmos gostos, sonhos e
desejos, e assim; os dias, os meses e os anos passam, até que nos perdemos de nós
mesmos.
Outra questão, é que focamos tanto em um aspecto de nossas vidas ou de nós mesmos, que deixamos outros aspectos importantes para trás. Ignoramos como
se isso não fosse ser cobrado de nós. Porém, Jung nos diz que aquele lado que não for
olhado e trabalhado, é o lado que nos derrubará.
Provavelmente o inconsciente
tenta nos avisar dessas mudanças e necessidades de diversas maneiras, através
dos sonhos, dos pesadelos, por meio de eventos sincrônicos (aqueles que
chamamos de “acaso”) por intuições, angústias, medos, pequenos e grandes acidentes; mas passamos
como um trator por cima de tudo isso, ás vezes fingindo que não estamos
percebendo que algo não vai bem.
É então que o inconsciente nos envia a doença para nos
salvar, como última tentativa de nos conectar com a nossa alma,
com aquilo que precisa ser vivido ou modificado em nós.
Aldo Carotenuto em seu livro Amar
trair, cita Rilke que diz “ Por que quereis excluir de vossa vida alguma
inquietação, algum sofrimento, alguma amargura, se ainda não sabeis o que tais
estados estão operando em vós? Por que quereis perseguir-me com a pergunta de
onde viria tudo isso, onde terminará, visto que sabeis o que estais passando e
que nada desejastes tanto quando transformar-vos? Se algo dos vossos processos tem o aspecto de doença, refleti
que a doença é o meio pelo qual o organismo se liberta do estranho; é
necessário então, somente ajudá-lo a adoecer, para que estoure, porque esse é o
seu progresso”.
Costumo dizer às pessoas que me
procuram: Pegue a doença no colo. Sim. Converse com ela e ouça o que ela quer te dizer, antes de simplesmente
mandá-la embora. Pergunte a ela, a que veio? Qual o seu propósito? O que ela pode te ensinar a respeito de você ou da sua vida?
Acredito que a função da doença é muito maior do que de apenas trazer sofrimento.
Com certeza tem partes nossas que
foram esquecidas pelo caminho e que precisam ser mais do que lembradas,
precisam ser reconhecidas e integradas.
Façamos a caminhada, a Jornada do Herói, em busca de nós mesmos!
Márcia Cortez
Psicóloga Clínica Junguiana
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